A Grande Farsa da Neutralidade da Tecnologia

Representação do poder invisível dos algoritmos
Imagem: a arquitetura invisível dos algoritmos

Como nos venderam a ideia de que algoritmos são imparciais para nos tornar cúmplices da própria manipulação

Todo mundo sabe, mas poucos admitem: toda tecnologia é política. Não é teoria da conspiração, é arquitetura. Quando compramos a ideia de que um algoritmo é “neutro”, aceitamos uma ideologia disfarçada: a crença de que o poder pode ser terceirizado para linhas de código e que nós, humanos, somos apenas usuários, e não cidadãos.

Pense rápido: quando foi a última vez que você reclamou do viés do seu feed e, ainda assim, esperou que a próxima atualização tornasse tudo “mais justa”? É aí que mora o truque.

A promessa da neutralidade futura nos prende em um ciclo. Pedimos pequenas correções ao sistema, sem jamais questionar a existência do próprio sistema.

A neutralidade como estratégia comercial

Plataformas se vendem como “espaços neutros” pelo mesmo motivo que shoppings dizem ser “praças públicas”: é mais lucrativo. Um shopping não é uma praça. Ele tem dono, regras e interesses. O seu feed também não é uma linha do tempo; é uma vitrine desenhada para maximizar o seu tempo de tela. A neutralidade funciona como manto, ou seja, permite que empresas atuem como atores políticos sem serem tratadas como tal.

O mito do algoritmo imparcial

Nenhum algoritmo é neutro. Todo sistema otimiza para algo. O TikTok otimiza retenção. O Google, engajamento. O Uber, lucro. Quando um executivo diz “o algoritmo decidiu”, ele quer dizer: “nossas métricas e interesses decidiram”. Cada escolha técnica é uma escolha de valores. Até o botão de “curtir” expressa um juízo sobre quem merece mais visibilidade.

A cumplicidade invisível

O mais perverso é que a farsa nos transforma em cúmplices. Compartilhamos simplesmente “porque o algoritmo mostrou”. E terceirizamos nosso julgamento. Aceitamos termos de uso sem ler; assinamos, sem perceber, contratos de poder. A vitória das Big Techs não é nos dominar de forma explícita, mas nos convencer de que somos parceiros, quando, na prática, somos produto.

Um teste prático que abre os olhos

Fiz um experimento simples: por uma semana, substituí mentalmente “o algoritmo recomenda” por “a empresa decidiu que é do seu interesse financeiro ver isso”. O efeito foi imediato.

  • O YouTube deixou de parecer uma vitrine de vídeos para revelar uma máquina de retenção.
  • O Instagram deixou de ser conversa entre amigos e virou leilão de atenção.

De repente, a tecnologia mostrou sua verdadeira face: não é mágica, é modelo de negócio.

A revolução que importa

Da próxima vez que ouvir “é só um algoritmo”, lembre-se: não existem ferramentas neutras, só ferramentas com donos e intenções.

Pare de perguntar “como o algoritmo funciona”. Faça a pergunta que desmonta a farsa:

Quem se beneficia quando eu acredito que ele é neutro?

Responder a isso é o primeiro passo para quebrar a maior ilusão da nossa era digital.

Quando aceitamos que um algoritmo é neutro, entregamos poder a quem escreve o código.

LeiaO futuro da internet: ainda há espaço para o conteúdo humano?

*As imagens ilustrativas deste artigo foram geradas por Inteligência Artificial (DeepAI).

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